Cristina Parreira é autora do livro de poemas "Sobre todos os Vãos", editado e publicado pela editora Ases da Literatura.
Em Mirassol, cidade no interior de São Paulo, Cristina vive ao lado de seu esposo Rodrigo e de suas filhas Helena e Lia; seus grandes incentivadores.
Além de escritora e cantora, Cristina é também professora de Literatura, Redação e Gramática, profissão que exerce há mais de 10 anos.
Seus poemas possuem relação direta com os acontecimentos de seu cotidiano.
Cristina encontra na família, e nas coisas da vida, a poesia necessária para formular seus versos.
Em "Sobre todos os Vãos", sua primeira obra publicada, ela apresenta aos leitores o poder de sua escrita.
Leia a entrevista completa com a autora.
1. Você poderia contar um pouquinho pra gente da sua história e como começou a sua relação com a escrita?
Claro. Sou professora de Gramática, Redação e Literatura há pouco mais de 10 anos. E a Literatura sempre teve um lugar muito especial. Mesmo estando em contato com a Literatura diariamente, escrever um livro não estava nos meus planos.
Muito em função desse contato, a gente acaba ficando mais exigente, mais crítico. Não pensava escrever para que as pessoas me lessem.
No segundo semestre de 2021, acabei tendo um poema publicado em uma Antologia, chamada "Retrospectiva 2021". Desde então, criei mais coragem para mostrar meus textos.
Desde 2021, então, alguns textos meus foram publicados em antologias. Até que a editora Ases da Literatura me convidou para uma parceria.
O convite surgiu depois que enviei meu original para participar de um concurso. Não ganhei o primeiro lugar.
Mas houve a possibilidade de publicar meu livro, de modo que fosse bom para mim e para a editora.
Foi tudo muito repentino. Na verdade, até achei de início algo um tanto prepotente da minha parte. Imagina só se alguém teria interesse em ler um livro meu!?
Só resolvi tentar mesmo por conta do apoio incondicional do meu marido e da minha filha mais velha.
A mais nova tem só 3 anos. Ainda não entende muito o que está acontecendo. Rodrigo e Helena são os grandes responsáveis.
Na verdade, Vladimir, meu primeiro contato com as artes foi pela música, o que é muito natural, né!?
2. Sério? E como foi isso?
Ser cantora sempre foi um grande sonho. Aos 7 anos comecei a estudar piano, por um desejo da minha mãe.
E assim a música sempre esteve muito presente na minha vida. Com 10 anos comecei a cantar e não parei mais.
O meu grande sonho, ao longo de boa parte da vida, foi cantar. Tive algumas boas experiências.
3. Você toca piano? Sempre quis aprender, e vou, em breve...
Meu marido, além de professor, também é músico. Então a música continua um elemento muito importante na nossa casa e nossa relação.
Na verdade arranho o piano, viu!? Por questões financeiras, acabei parando com as aulas. Depois de adulta voltei aos estudos, mas aí o tempo já era muito curto.
São muitas as exigências ao longo dos dias. Acabou ficando difícil estudar piano novamente.
De qualquer forma, durante muito tempo, fiz eventos tocando e cantando. Mas músico mesmo é meu marido. Me entendo mais como cantora.
Então, escrever não era um sonho ou algo que se fazia urgente, necessário. E agora é. Talvez tão importante quanto a música.
4. "Sobre todos os Vãos" é o seu primeiro livro, certo?
Isso mesmo. É um livro de poemas.
5. Você poderia contar um pouco mais sobre ele?
Claro. É um livro de poemas. Poemas que têm relação direta com o meu dia a dia, principalmente com as minhas relações pessoais.
Sou mãe de duas meninas. Uma de 11 anos e outra de 3. Helena e Lia. E elas são fonte inesgotável de inspiração. Sei que é clichê, mas não tem como ser diferente.
Ser mãe, pra mim, foi algo transformador.
E penso que a poesia está em todos os lugares. Nós é que temos que estar atentos para percebê-la, muitas vezes, no que nos parece mais banal.
Fico sempre muito atenta a tudo que as minhas meninas falam. E tem vezes que é poesia pronta. Só passo pro papel.
6. Isso é muito verdade, quanto mais somos capazes de ver (verdadeiramente) o que está em volta, mais temos bagagem para escrever. Dizem que os melhores escritores são aqueles que observam melhor. Mas por que você escolheu a poesia? Pensa em escrever romances?
Concordo! É importante observar. E meu livro traz um pouco de tudo isso. Um pouco das minha observações, da minha experiência como mãe, da minha relação com meu marido, do meu dia a dia como filha, como professora...
É importante dizer que esse contato diário com meus alunos também é muito enriquecedor. Me proporciona grandes possibilidades.
Olha, preciso dizer que a prosa, pra mim, ainda é um grande desafio. Tenho vontade de escrever um Romance sim. Quem sabe um dia!?
Por enquanto tenho me arriscado no Conto. Acho que é um bom caminho.
7. Agora me diz uma coisa, Cristina, uma coisa polêmica, você acha que ser professora de gramática te ajuda a escrever melhor ou atrapalha por excesso de conhecimento? Alguns escritores com quem eu converso sempre falam que às vezes, se preocupar demais com a gramática, pode atrapalhar um pouco. Você concorda?
Acabei não te respondendo o porquê do gênero poema. Perdão. Penso que fui escolhida, viu!? Me pareceu mais acessível me expressar pelos versos.
Não que seja algo simples. Acho que, naquele momento, de início da minha escrita, foi o que chegou primeiro a mim.
Agora, sobre a Gramática... Penso que, no meu caso, mais ajuda do que atrapalha.
8. E eu também fiz a pergunta errada, era pra ser POEMA e não POESIA. Mas você entendeu.
Claro! Imagina! Acho importante me referir ao gênero (e isso é mais coisa de professora mesmo), porque a poesia está em tudo. Está no poema, no conto, no romance, na crônica...
Assim como está no cinema, na música, na fotografia, nas conversas, no silêncio... Pode estar em qualquer lugar.
9. Exatamente. Cristina, por escrever poemas, imagino que você tenha uma preocupação com a estrutura do texto. Você acha que um bom poema está mais ligado a métrica, a rima, ou você acha que a narrativa é o mais importante? Porque às vezes acontece de nos depararmos com poemas que tem uma excelente escrita (linguagem) e rima, mas que não dizem muita coisa. Ou será que está mais ligado ao leitor?
Olha... É uma questão interessante. Penso que o leitor é elemento fundamental. Depois que o poema está pronto, ele já não tem dono.
Cada um o recebe de acordo com a sua realidade, de acordo com as suas experiências, de acordo com seu momento.
Concordo plenamente com a Hilda Hilst. Não se explica um poema. É inútil. Isso porque cada um o receberá de formas diferentes.
Não me preocupo muito com as rimas, com a métrica. Até porque não saberia pensar em tudo isso.
Gosto muito daquilo que se apresenta na espontaneidade, de modo orgânico. Porém, amo Camões, amo seus sonetos, suas rimas...Toda sua riqueza formal.
Não se pode dizer que não há beleza na estética parnasiana, por exemplo.
10. Obras e autores que te inspiraram.
Atualmente tenho lido mais mulheres. Acabei de ler Carla Madeira (Tudo é Rio) e Conceição Evaristo ( Olhos D'água). Fiquei encantada com tanta potência.
Certamente são inspiradoras, entre tantas. São muitas as inspirações. E uma das maiores é, sem dúvida, Mia Couto. "Terra Sonâmbula" é umas das obras mais profundas que já li. Aprecio toda a obra dele, na prosa e na poesia.
11. Qual é a mensagem que você gostaria de deixar para todas as pessoas do mundo, caso um livro seu pudesse chegar a todas elas?
Caso seja possível, em algum momento vida à fora, as pessoas terem (e quiserem ter) acesso ao meu livro, desejo que sejam tocadas, de alguma forma.
E que percebam que todos somos capazes, cada um a seu modo, de rabiscar alguns versos.
Entrevista realizada em 20 de janeiro de 2023.
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