Rafael Moraes (Fundador)

11 de nov de 202210 min

Qual a melhor maneira de começar uma história? Aprenda com 5 dicas práticas!

Começar uma história de forma interessante aumentam as chances de você ser lido até o final. Por outro lado, se a sua história começar de forma desorganizada, com informações e personagens aleatórios, sem conexão e intenção... Tchau! Seu texto será abandonado.

Já parou para pensar em como boas histórias, geralmente, nos prendem do início ao fim?

Você começa lendo e, a cada nova página virada, a história vai te conquistando e conquistando até chegar o momento em que você não consegue mais parar...

Se você gosta de ler, sabe muito bem o que eu estou dizendo: uma história bem escrita pode mudar nossas vidas.

E se a sua história for bem escrita, você com certeza mudará a vida das pessoas também.

Entretanto, para se escrever bem é preciso muito mais do que criatividade. É preciso também conhecimento; pois é com ele que você vai conseguir estruturar a melhor maneira de mostrar ao mundo o que está preso aí dentro.

Está pronto para aprender qual a melhor maneira de começar uma história? Então vamos lá! :)

Começando uma história...

A primeira coisa que você precisa entender, ao começar a escrever uma história, é que elas não surgem do nada.

Histórias, muitas vezes, são fruto de experiências de vida somado a vontade de colocar esses sentimentos no papel.

O bom escritor é, acima de tudo, um bom observador.

Quanto mais você repara nas pessoas e nos acontecimentos que te cercam, maior é o seu repertório e melhores são as chances de você escrever um texto impactante, que faça alguma diferença na vida das pessoas.

Por isso, para começar uma história, é muito importante que você preste atenção a uma coisa:

1. a ideia...

Isso parece algo muito óbvio, clichê. Mas a verdade é que nem todo mundo percebe a importância dessa palavrinha minúscula na vida de quem escreve.

Tudo começa por ela. Absolutamente tudo. Tudo que existe ao seu redor é fruto daquilo que antes foi uma simples ideia. E com o texto não é diferente.

A questão aqui é prestar atenção na ideia que mais faz sentido pra você.

Mas como assim?

Você, muito provavelmente, tem algumas preferências na vida. Certos tipos de música que gosta de ouvir, certos lugares que gosta de frequentar e assim por diante.

Suponhamos que você seja uma pessoa que admire muito um estilo específico de música. Vamos utilizar como exemplo o rock.

Imagine que a maior parte da sua playlist seja composta por esse estilo de música. Você não apenas gosta de rock, mas você vive o rock.

Você consegue imaginar a sua vida de muitas formas, mas não consegue se imaginar num lugar onde o rock não exista.

Agora, imagine que você trabalhe muito, quase o dia inteiro, de segunda a segunda.

Nos poucos tempos que te resta, você usa para escrever ou para fazer outra atividade que lhe proporcione prazer.

No meio dessa vida tão corrida e atarefada, um amigo distante, que você não vê há muito tempo, te convida para sair: é o aniversário de sete anos da filha dele.

Você se sente na obrigação de ir, mas não pode. Está sem tempo. Se tivesse uma vida menos ocupada, você iria, com certeza. Pede desculpas, diz que vai enviar um presente.

Duas horas depois, um outro amigo te liga. Ele está meio sem jeito, diz que não sabe bem o que fazer: acabou de ganhar dois ingressos para o Rock in Rio e precisa encontrar alguém para ir com ele.

Automaticamente, diante desta situação, o que você responderia, sabendo desse seu amor profundo pelo rock n' roll? Sim ou não?

É quase certo que você responderia sim, pois a ideia de ir ao Rock in Rio de forma gratuita, é muito mais tentadora do que a ideia de ir ao aniversário de sete anos de uma criança que você mal conhece.

Agora, pense na influência que as ideias tem nas suas histórias...

Se esse mesmo personagem, que adora rock, quisesse começar a escrever uma história de ficção: qual história ele começaria melhor?

Uma história cujo o enredo fosse os conflitos de uma criança no seu aniversário de sete anos ou uma história repleta de musicalidades, shows e rock n' roll?

Com certeza ele se sentiria muito mais motivado a escrever uma história que envolvesse, de alguma maneira, o seu estilo de música preferido, pois é algo que ele gosta.

Essa história serve para ilustrar a importância de usar uma ideia motivadora como princípio básico da escrita do seu texto.

Ao usar uma ideia que te motive, você, automaticamente, vai se sentir mais inspirado a escrever, e o seu texto vai fluir com muito mais naturalidade.

Dessa forma, a primeira dica de como começar uma história é fazer uso de ideias que sejam interessantes para você.

Você consegue imaginar um escritor como Paulo Coelho escrevendo sobre um livro de romance sáfico adolescente, por exemplo?

Ou você consegue imaginar uma escritora como Elayne Baeta escrevendo histórias de guerra?

Claro que esses dois autores tem potencial suficiente para escreverem a história que eles quiserem. Mas percebe que cada autor tem o seu caminho próprio? A sua voz própria?

Ao escrever sobre coisas que você gosta, você já está com meio caminho andado.

2. A forma

Depois de ter selecionado a ideia que mais soe interessante aos seus olhos, está na hora de colocar essa ideia no papel.

Se você está se preparando para escrever o seu primeiro texto, o mais aconselhável é que você escreva sem muitas restrições.

Essa escrita livre, no começo, serve como uma espécie de laboratório para você conhecer os seus sentimentos em relação a escrita.

É uma forma de você ver quais são os seus reais sentimentos em relação ao trabalho de escrever histórias.

Quando estamos começando, é muito importante que o processo flua naturalmente, para que você conheça mais sobre si mesmo e sobre a sua forma de escrever.

Agora, se você já é uma escritora ou um escritor mais experiente, que está buscando desenvolver suas habilidades, o mais aconselhável é usar a primeira etapa de um arco narrativo.

A primeira etapa do arco narrativo é a exposição. É o momento em que você vai situar a história, apresentar os personagens e criar o interesse no leitor.

Frise essa parte: você precisa estimular o interesse no leitor logo no começo, caso contrário, ele vai sair correndo e vai deixar sua história para trás.

No geral, as histórias começam de forma branda. Os personagens vão surgindo pouco a pouco de acordo com a narrativa.

Mas cuidado com a forma de apresentar esses personagens! Nada de sair listando características aleatórias e paisagens aleatórias.

Essas informações, quando em excesso, e de forma desorganizada, tendem a deixar a narrativa sem graça.

A sua escrita precisa ser planejada, de forma intencional e com um objetivo em mente.

Veja alguns exemplos!

Exemplo 1:

"Marina tinha 17 anos, um metro e setenta, olhos castanhos e cabelo preto. Gostava de usar jeans e All Star. Usava um fone de ouvido bege e tinha um piercing na orelha e uma tatuagem de borboleta no braço esquerdo, sendo que ela era destra. Marina adorava escrever. Mas tinha preferência em digitar no computador, porque era mais rápido. Seu sonho era ser uma escritora famosa. Sua mãe chamava Matilda. Brigava muito com ela. Seu melhor amigo se chamava Afonso. Ele era engraçado. Mas parecia triste a maior parte do tempo. O maior sonho dele era ser astronauta. Marina não tinha pai. Ele morreu quando ela era pequena. Mas ela já estava bem. Superou tudo. Afonso trouxe um pedaço de bolo. Ofereceu para a amiga."

Essa, definitivamente, não é a melhor maneira de começar uma história.

Viu como a linguagem não tem brilho? As informações são muito diretas e colocadas de forma muito aleatória.

A impressão que temos é que o escritor jogou um balde de palavras em cima de nós, sem nenhum carinho, nem cuidado. Veja a mesma história em uma versão um pouquinho mais requintada.

Exemplo 2:

"Ela não havia superado a dor, embora fosse nova demais para entender isso. Achava que tinha superado tudo, quando, na verdade, tinha uma vida moldada pelo trauma.

Na infância, seu pai viajou a trabalho. Demorou a voltar. Quando voltou, num domingo frio e úmido, estava com um aspecto diferente, meio esbranquiçado, inchado e com os lábios escuros. O que aconteceu com o papai, mamãe? Ela perguntava todas as vezes que escorava no caixão para olhar o papai dormindo. Mas a mãe não conseguia responder, estava em choque.

As pessoas que chegavam também não diziam nada. Todo mundo calado, quieto. Parecia que estavam com medo de acordar o pai. Mas o pai não acordava. Não se mexia. Não respirava. Mais tarde, quando começaram a carregar o caixão, ela correu para ver o que iriam fazer. Que brincadeira é essa? pensou. Quando colocaram o caixão dentro de um buraco, ela tentou impedir. Ninguém poderia fazer aquilo com o papai dela. Mas fizeram, e pior, jogaram terra por cima.

Demorou muito tempo para entender o que significava aquilo tudo. Depois que entendeu, não concordou. Achou injusto. Seu pai não tinha motivos para morrer. Era uma pessoa boa. Pessoas boas deveriam viver para sempre, não?

Aos 17 anos, ela já não tinha tanta certeza. Mas sabia que a morte era certa, assim como o seu gosto por escrita, que aumentava a cada vez que diziam que ela não era capaz."

E então, qual dos dois exemplos te chamou mais atenção?

Conseguiu perceber a diferença de um exemplo para o outro? Viu que no primeiro texto existe uma enorme quantidade de informações desnecessárias que só prejudicam a narrativa?

Sabe qual a principal diferença de um texto para o outro?

No segundo texto eu escolhi a ideia que mais me interessou na história da personagem Marina.

Em seguida, criei um rápido arco narrativo para a personagem, para que eu pudesse expor um pouco da história dela de forma sedutora.

Basicamente, a diferença entre os dois exemplos é que, em um não há arco narrativo e, no outro, há. Tão simples quanto isso.

Você nunca imaginou que um arco narrativo pudesse fazer tanta diferença, não é?

Com certeza, o segundo exemplo é a melhor maneira de começar uma história.

Com o arco narrativo você consegue planejar com muito mais detalhes a jornada dos seus personagens.

Sem o arco, as coisas parecem não fazer sentido. Fica tudo meio perdido. Quer matar uma excelente ideia de história? Escreva sem ter um arco em mente.

3. Não entregue tudo de uma vez

O ser humano adora um mistério. Além disso, somos seres egoístas e vaidosos. Gostamos de nos sentir inteligentes.

Por essa razão, não dê todas as respostas de forma imediata. Deixe pistas para que o leitor faça as ligações por conta própria.

Lembra do exemplo que usamos no tópico passado? Viu como eu deixei claro que o pai da personagem estava morto sem necessariamente dizer que ele estava morto?

Eu poderia ter sido direto. Mas não, optei por levantar um pequeno suspense. Você muito provavelmente se perguntou: será que ele está morto ou dormindo?

E, com a minha orientação, você concluiu que ele estava morto, sem que eu precisasse dizer.

Escrever bem está conectado a isso: a ajudar o leitor a chegar a algum lugar. Se você tiver em mente só apresentar fatos, é melhor abrir um jornal.

Histórias ficcionais, para serem impactantes, precisam envolver o leitor no decorrer das páginas.

Se você entregar tudo de uma vez, a história acaba no primeiro capítulo.

No livro A Ilha do Tesouro, por exemplo, há um grande exemplo de envolvimento, pois você fica o tempo todo se perguntando se eles vão ou não conseguir encontrar o tesouro.

Detalhe: o autor apresenta essa questão, indiretamente, desde o início.

Ou seja, para começar uma história bem, você pode incluir nas primeiras páginas algo que instigue a curiosidade do leitor. Isso vai ajudar muito. Mas sem entregar o ouro, pelo amor de Zeus!

Cada coisa no seu tempo. O plot precisa aparecer na hora certa.

4. Emoções e traços de personalidade: comece a história conectando leitores a personagens

Começar uma história criando conexão entre leitores e personagens é uma ótima maneira de conquistar o coração de quem está lendo.

E quanto antes você conseguir conquistar o coração do leitor, mais ele vai se interessar pela história e vai ler até o final.

Apresente o lado frágil dos personagens.

Sabe aquela parte da história que gera identificação? Aquela em que você pensa: puxa! Isso poderia ter acontecido comigo!

Pois é, isso faz com que o leitor veja a história através da ótica do seu personagem.

Se você, logo no início, conseguir fazer com que o leitor veja tudo com os olhos dos seus personagens, ele vai se interessar cada vez mais pela história; os acontecimentos vão fazer mais sentido pra ele.

O Colecionador é um bom exemplo disso. Veja como o autor começa o livro:

"Sempre que ela estava em casa, de férias do colégio interno, costumava vê-la quase todos os dias, visto que morava bem em frente do Anexo da Câmara Municipal, onde eu trabalhava. Via-a sair e entrar em casa, frequentemente, com sua irmã e, por vezes, com rapazes seus amigos, os quais, claro, não eram muito do meu agrado."

Você percebeu os traços de personalidade do personagem? Notou o que ele sente por essa moça? Viu que ele tem ciúmes dela?

Logo, mesmo que você talvez não compactue com a ideia de stalkear alguém, muito provavelmente você já passou por algo parecido: de sentir ciúmes, de querer estar com alguém rodeado por outras pessoas.

Esse sentimento faz você, inconscientemente, querer prosseguir. Viu que os personagens foram expostos de maneira misteriosa e emotiva?

No início de O Colecionador, o autor não falou em nenhum momento sobre a aparência física dos personagens.

Ele deixou muito claro, de forma branda, o sentimento que envolve os dois, principalmente através da ótica de um deles.

De um lado temos uma personagem que leva uma vida aparentemente normal, convivendo com os amigos e a irmã.

Do outro, temos alguém ciumento e possessivo, que, ao invés de trabalhar, fica observando a vida da vizinhança.

Percebe como as emoções e os traços de personalidade se fazem presente?

De pouco a pouco o texto vai nos envolvendo e, quando você menos percebe, já está profundamente conectado aos personagens.

Quando isso acontece, a sua curiosidade fala mais alto e você começa a se perguntar sobre o que vai acontecer nos próximos capítulos.

Entendeu?

Comece a história apresentando os traços de personalidade dos seus personagens, de forma branda e sem forçar a barra.

E faça isso de forma emotiva, o mais natural possível.

5. A primeira impressão é a que fica

Uma história que começa bem, tem grandes chances de terminar bem. Não ache que alguém continuará lendo sua história só porque você é uma pessoa legal.

Se a história começa de forma desorganizada, com informações colocadas de forma completamente aleatória e sem brilho, o leitor não vai chegar até o final.

Caso ele insista, sua obra vai ocupar a lista de piores livros daquele ano.

As pessoas vão ler o seu livro até o fim se o seu texto for útil pra elas. Por isso é importante você lembrar o leitor da importância do seu livro.

Como?

Organizando bem as ideias centrais do texto, criando personagens marcantes e envolventes.

Lembre-se: sua história é uma ponte que levará os leitores a outros lugares. Você é o construtor da ponte e o condutor da jornada.

Além de tudo o que explicamos nesse texto, o mais importante na hora da escrita é a sua verdade, isto é, escreva sobre algo que te interesse verdadeiramente.

Lembra do que falamos lá no início, que tudo começa com a ideia?

Então, selecione as ideias que realmente soem interessantes para você, por mais estranhas que pareçam.

Não escreva somente para agradar alguém, escreva para mostrar ao mundo a sua visão sobre ele.

Se você escrever sobre algo que realmente gosta e usar as dicas que apresentamos aqui, as chances de começar uma história com o pé direito serão muito maiores.

Espero que esse texto tenha sido útil pra você! Abraços e até a próxima! ;)


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