Jaíne Jehniffer

25 de mai de 20234 min

Literatura de Cordel: como surgiu?

O cordel é um gênero literário marcado pela métrica, rima e oração. Ele foi trazido para o Brasil pelos colonizadores e se espalhou pelo Norte e Nordeste.

Via Coletivo do Leitor

O que é Literatura de Cordel?

A Literatura de Cordel é um gênero literário, que costuma ser escrito de forma rimada. Esse gênero se popularizou, principalmente, no Norte e Nordeste do Brasil, mas hoje em dia ele é popular em todo o país.

O cordel tem origem em relatos orais que depois são impressos em folhetos. Sendo assim, as histórias são impressas em brochuras e o nome “cordel” é porque os folhetos costumam ser apresentados pendurados em cordas (ou cordéis, como são chamados em Portugal).

Originalmente, os cordéis não eram apenas um gênero literário, mas também funcionavam como veículo de comunicação e ofício, servindo assim como uma fonte de renda para os cordelistas.

A popularização dos cordéis ocorreu no século XIX, funcionando como uma forma de expressão da cultura brasileira, com contribuições da cultura africana, indígena, árabe e europeia.

Atualmente, os cordelistas modernos estabelecem o cordel como um gênero literário composto, obrigatoriamente, por três elementos: métrica, rima e oração.

Portanto, a literatura de cordel é formada por esses elementos, juntamente com as xilogravuras, ilustrações das histórias estampadas nas capas dos livretos.

Origem

Por ter se tornado uma forma de expressão da literatura brasileira, muitos pensam que o cordel foi criado no Brasil.

Mas a verdade é que esse gênero já existia no período dos povos greco-romanos, cartagineses, fenícios e saxões.

Apenas por volta do século XVI, é que o cordel chegou a Portugal e Espanha.

A literatura de cordel veio para o Brasil com os colonizadores, que se instalaram na Bahia, especificamente em Salvador, que era a capital brasileira na época.

Seja como for, os colonizadores trouxeram, mas foi o povo brasileiro que se apropriou e deu identidade brasileira para a literatura de cordel.

Os cordéis se espalharam pelo Brasil através dos repentistas, isto é, os violeiros que cantavam as histórias escritas pelos poetas de bancada (nome dado aos autores de cordéis que manufaturavam suas próprias obras).

O ano de 1893 é considerado como um marco na literatura de cordel, pois foi nesse ano que o paraibano Leandro Gomes de Barros publicou seus primeiros versos de cordel.

Até hoje os cordéis são importantes para ajudar na preservação dos costumes regionalistas e pelo incentivo à leitura.

Inclusive, por causa do seu valor cultural e histórico, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) concedeu, em 2018, o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro para a Literatura de Cordel.

Via Instituto Claro

Características principais

As principais características da literatura de cordel são:

  • Os assuntos abordados nos textos são costumes locais, o que contribui para a importância do cordel para o folclore e para o fortalecimento das identidades regionais;

  • O texto costuma ser escrito com métrica fixa e rimas que criam a musicalidade dos versos;

  • Os textos costumam ser acompanhados por xilogravuras que ilustram as páginas dos poemas.

Exemplo

O primeiro brasileiro a escrever cordéis foi Leandro Gomes de Barros. No total, o autor produziu 240 obras que ficaram muito conhecidas no imaginário popular do Nordeste Brasileiro e de todo o país.

Exemplo disso é a peça de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida, que foi baseada nos cordéis de Barros.

Confira abaixo o cordel "O testamento do cachorro" de Leandro Gomes de Barros:

Eu vi narrar um fato
 
Que fiquei admirado
 
Um sertanejo me disse
 
Que nesse século passado
 
Viu enterrar um cachorro
 
Com honras de um potentado.
 

 
Um inglês tinha um cachorro
 
De uma grande estimação.
 
Morreu o dito cachorro
 
E o inglês disse então:
 
Mim enterra esse cachorro
 
Inda que gaste um milhão.
 

 
Foi ao vigário e lhe disse:
 
Morreu cachorra de mim
 
E urubu no Brasil
 
Não poderá dar-lhe fim...
 
- Cachorro deixou dinheiro?
 
Perguntou o vigário assim.
 

 
- Mim quer enterrar cachorro!
 
Disse o vigário: Oh! Inglês!
 
Você pensa que isto aqui
 
É o país de vocês?
 
Disse o inglês: Oh! Cachorro!
 
Gasta tudo esta vez.
 

 
Ele antes de morrer
 
Um testamento aprontou
 
Só quatro contos de réis
 
Para o vigário deixou.
 
Antes do inglês findar
 
O vigário suspirou.
 

 
- Coitado! Disse o vigário,
 
De que morreu esse pobre?
 
Que animal inteligente!
 
Que sentimento tão nobre!
 
Antes de partir do mundo
 
Fez-me presente do cobre.

Leve-o para o cemitério,
 
Que vou o encomendar
 
Isto é, traga o dinheiro
 
Antes dele se enterrar,
 
Estes sufrágios fiados
 
É factível não salvar.

E lá chegou o cachorro
 
O dinheiro foi na frente,
 
Teve momento o enterro,
 
Missa de corpo presente,
 
Ladainha e seu rancho
 
Melhor do que certa gente.
 

 
Mandaram dar parte ao bispo
 
Que o vigário tinha feito
 
O enterro do cachorro,
 
Que não era de direito
 
O bispo aí falou muito
 
Mostrou-se mal satisfeito.
 

 
Mandou chamar o vigário
 
Pronto o vigário chegou
 
As ordens sua excelência...
 
O bispo lhe perguntou:
 
Então que cachorro foi,
 
Que seu vigário enterrou?
 

 
Foi um cachorro importante
 
Animal de inteligência
 
Ele antes de morrer
 
Deixou à vossa excelência
 
Dois contos de réis em ouro...
 
Se errei, tenha paciência.
 

 
Não foi erro, sr. Vigário,
 
Você é um bom pastor
 
Desculpe eu incomodá-lo
 
A culpa é do portador,
 
Um cachorro como este
 
Já vê que é merecedor.
 

 
O meu informante disse-me
 
Que o caso tinha se dado
 
E eu julguei que isso fosse
 
Um cachorro desgraçado.
 
Ele lembrou-se de mim
 
Não o faço desprezado.
 

 
O vigário aí abriu
 
Os dois contículos de réis.
 
O bispo disse: é melhor
 
Do que diversos fiéis.
 
E disse: Provera Deus
 
Que assim lá morresse uns dez.
 

 
E se não fosse o dinheiro
 
A questão ficava feia,
 
Desenterrava o cachorro
 
O vigário ia a cadeia.
 
Mas como gimbre correu
 
Ficou qual letras na areia.


Fontes: Neoenergia, Mundo educação e Brasil escola.

Bibliografia:

  • Marinho, Fernando. Literatura de cordel. Brasil Escola. Acesso em 02 de março de 2023.


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