Rafael Moraes (Fundador)

2 de fev de 20234 min

Ariano Suassuna: uma breve história

Ariano Suassuna é um dos escritores mais proeminentes do nosso país. Nascido no sertão nordestino, seus textos valorizam a cultura de sua terra, e seus personagens tornaram-se emblemáticos.

É bem provável que você já tenha ouvido falar nos personagens João Grilo e Chicó, protagonistas do Auto da Compadecida, a obra mais conhecida do autor.

Vamos conhecer um pouco mais sobre ele? Puxa uma cadeira, sirva um cafezinho e simbora! :)

Primeiros Anos

O nascimento de Ariano Suassuna se deu no dia 16 de junho do ano de 1927, em uma cidade conhecida como Nossa Senhora das Neves, mas que, atualmente, todos a conhecem como João Pessoa, capital do estado da Paraíba.

Filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano foi o oitavo filho entre nove filhos do casal.

Seu pai foi político e uma grande personalidade paraibana da época, tendo exercido cargos como Deputado Federal e “Presidente da Parahyba”, cargo similar ao de governador.

Ariano Suassuna perdeu o pai aos 3 anos de idade; o mesmo foi assassinado por conflitos políticos no Rio de Janeiro.

Por esse motivo, Rita de Cássia se muda para a cidade de Taperoá com os filhos, e é justamente nesta cidade que Ariano tem contato pela primeira vez com uma peça de mamulengos e um desafio de violas, vertentes artísticas que o influenciaram em seus futuros trabalhos.

Juventude

Já nos anos 1940, após terminar seus estudos secundários no Ginásio Pernambucano e no Colégio Osvaldo Cruz, Ariano Suassuna ingressou na Faculdade de Direito, em Recife.

Na faculdade ele conhece Hermilo Borba Filho, onde juntos, fundam o Teatro do Estudante de Pernambuco. Logo depois, em 1947, Ariano escreve sua primeira peça: Uma Mulher Vestida de Sol.

A partir daí, Ariano Suassuna começa a produzir mais textos e obras. As peças Cantam as Harpas de Sião e Os Homens de Barro foram escritas logo em seguida e produzidas pelo Teatro do Estudante de Pernambuco.

Na década de 1950, Ariano conclui os estudos acadêmicos em Direito e, devido uma doença pulmonar, retorna para Taperoá para se cuidar. Nesta mesma época, ele recebe o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz.

Em Taperoá, Ariano escreveu e montou a peça denominada Torturas de um Coração. Tempos depois, quando retorna a Recife, escreve O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955) — Sua obra de maior prestígio .

Na Universidade Federal de Pernambuco, já em meados de 1956, Ariano Suassuna tornou-se professor de Estética, e, devido a isso, deixou de advogar, dedicando-se completamente na produção de peças e estudos na universidade.

Movimento Armorial

Ilustração sobre o Movimento Armorial do artista Flavio Tavares / Via El País

Ariano Suassuna foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura e também foi nomeado a diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (Universidade Federal do Pernambuco), pelo reitor Murilo Guimarães, no ano de 1969.

Em 18 de outubro de 1970, ele lança o Movimento Armorial — Um movimento artístico que apresentou o sertão nordestino com um olhar diferente do habitual, unindo arte erudita e popular.

O Movimento Armorial se deu através do lançamento do concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” , além de uma exposição de gravura, pintura e escultura.

Além disso, o movimento se estendeu a muitas outras artes, como música, cinema, literatura, dança, teatro, artes plásticas, arquitetura, etc.

Segundo o próprio Ariano Suassuna:

A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos "folhetos" do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus "cantares", e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados.” (Jornal de Semana, 20 de maio de 1975)

Ariano Suassuna foi secretário de Cultura do Estado do Pernambuco, entre os anos de 1994 a 1998, durante o governo de Miguel Arraes.

O que é um "Auto"?

Como estamos falando do grande Ariano Suassuna, com certeza, em algum momento, você ouviu falar em "Auto", como no caso de: o "Auto da Compadecida" ou o "Auto de João da Cruz."

Auto, para explicar de maneira mais compreensível, é um gênero dramático que une, geralmente, o humor e o drama.

Podem ser curtas peças teatrais, ou até mesmo cenas, que possuem em seu cerne uma linguagem leve com reflexões sociais.

Na maioria das vezes os textos deste gênero são escritos em versos, retratando o religioso e o profano.

É como se tratássemos de um assunto muito relevante à sociedade, utilizando-se dos benefícios da comédia, para fazer rir e refletir.

Como surgiu o gênero dramático "Auto"?

O "auto" surgiu há muito tempo na época medieval, em Portugal. Era uma espécie de peça teatral, já que a palavra que deu origem a "auto" é o termo latino "actum" que significa qualquer obra representada.

Basicamente, no período medieval, as peças teatrais eram denominadas como "auto" e com o tempo isso foi se alterando aos poucos.

Como um dos principais pioneiros deste gênero, temos Gil Vicente, que, durante o século 16, escreveu obras como: Auto da Barca do Inferno e Auto da Lusitânia.

O "auto" está muito ligado a religião, já que, no início, eram apresentados em templos religiosos. Mais tarde, fora destes espaços, uniram-se várias outras temáticas sociais que se misturaram dando as características mais atuais do auto.

Obras e morte de Ariano Suassuna

Além de peças teatrais, Ariano Suassuna também escreveu obras de ficção, tais como: A história do amor de Fernando e Isaura, História d' O rei degolado nas caatingas do sertão, 'Romance d' A pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta' e As infâncias de Quaderna.

Ariano Suassuna veio a óbito no dia 23 de julho do ano de 2014, com 87 anos de idade. A causa de sua morte foi parada cardíaca.

Outra atribuição muito importante dada a Ariano, era suas tão aclamadas "aulas-espetáculo" em que palestrava percorrendo o Brasil compartilhando seus conhecimentos e suas visões de mundo e sociedade.

Ariano Suassuna ocupou a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi membro da Academia Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Faculdade Federal do Rio Grande do Norte (2000).

Algumas frases de Ariano Suassuna

"Quem gosta de ler não morre só"

"Os doidos perderam tudo, menos a razão"

"É tanta qualidade que exigem para dar emprego, que não conheço um patrão com condições de ser empregado"


Fontes: Toda Matéria, ABL, Brasil Escola, Minha Língua Minha Pátria


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