Literatura de Cordel: como surgiu?
O cordel é um gênero literário marcado pela métrica, rima e oração. Ele foi trazido para o Brasil pelos colonizadores e se espalhou pelo Norte e Nordeste.

O que é Literatura de Cordel?
A Literatura de Cordel é um gênero literário, que costuma ser escrito de forma rimada. Esse gênero se popularizou, principalmente, no Norte e Nordeste do Brasil, mas hoje em dia ele é popular em todo o país.
O cordel tem origem em relatos orais que depois são impressos em folhetos. Sendo assim, as histórias são impressas em brochuras e o nome “cordel” é porque os folhetos costumam ser apresentados pendurados em cordas (ou cordéis, como são chamados em Portugal).
Originalmente, os cordéis não eram apenas um gênero literário, mas também funcionavam como veículo de comunicação e ofício, servindo assim como uma fonte de renda para os cordelistas.
A popularização dos cordéis ocorreu no século XIX, funcionando como uma forma de expressão da cultura brasileira, com contribuições da cultura africana, indígena, árabe e europeia.
Atualmente, os cordelistas modernos estabelecem o cordel como um gênero literário composto, obrigatoriamente, por três elementos: métrica, rima e oração.
Portanto, a literatura de cordel é formada por esses elementos, juntamente com as xilogravuras, ilustrações das histórias estampadas nas capas dos livretos.
Origem
Por ter se tornado uma forma de expressão da literatura brasileira, muitos pensam que o cordel foi criado no Brasil.
Mas a verdade é que esse gênero já existia no período dos povos greco-romanos, cartagineses, fenícios e saxões.
Apenas por volta do século XVI, é que o cordel chegou a Portugal e Espanha.
A literatura de cordel veio para o Brasil com os colonizadores, que se instalaram na Bahia, especificamente em Salvador, que era a capital brasileira na época.
Seja como for, os colonizadores trouxeram, mas foi o povo brasileiro que se apropriou e deu identidade brasileira para a literatura de cordel.
Os cordéis se espalharam pelo Brasil através dos repentistas, isto é, os violeiros que cantavam as histórias escritas pelos poetas de bancada (nome dado aos autores de cordéis que manufaturavam suas próprias obras).
O ano de 1893 é considerado como um marco na literatura de cordel, pois foi nesse ano que o paraibano Leandro Gomes de Barros publicou seus primeiros versos de cordel.
Até hoje os cordéis são importantes para ajudar na preservação dos costumes regionalistas e pelo incentivo à leitura.
Inclusive, por causa do seu valor cultural e histórico, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) concedeu, em 2018, o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro para a Literatura de Cordel.

Características principais
As principais características da literatura de cordel são:
Os assuntos abordados nos textos são costumes locais, o que contribui para a importância do cordel para o folclore e para o fortalecimento das identidades regionais;
O texto costuma ser escrito com métrica fixa e rimas que criam a musicalidade dos versos;
Os textos costumam ser acompanhados por xilogravuras que ilustram as páginas dos poemas.
Exemplo
O primeiro brasileiro a escrever cordéis foi Leandro Gomes de Barros. No total, o autor produziu 240 obras que ficaram muito conhecidas no imaginário popular do Nordeste Brasileiro e de todo o país.
Exemplo disso é a peça de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida, que foi baseada nos cordéis de Barros.
Confira abaixo o cordel "O testamento do cachorro" de Leandro Gomes de Barros:
Eu vi narrar um fato Que fiquei admirado Um sertanejo me disse Que nesse século passado Viu enterrar um cachorro Com honras de um potentado. Um inglês tinha um cachorro De uma grande estimação. Morreu o dito cachorro E o inglês disse então: Mim enterra esse cachorro Inda que gaste um milhão. Foi ao vigário e lhe disse: Morreu cachorra de mim E urubu no Brasil Não poderá dar-lhe fim... - Cachorro deixou dinheiro? Perguntou o vigário assim. - Mim quer enterrar cachorro! Disse o vigário: Oh! Inglês! Você pensa que isto aqui É o país de vocês? Disse o inglês: Oh! Cachorro! Gasta tudo esta vez. Ele antes de morrer Um testamento aprontou Só quatro contos de réis Para o vigário deixou. Antes do inglês findar O vigário suspirou. - Coitado! Disse o vigário, De que morreu esse pobre? Que animal inteligente! Que sentimento tão nobre! Antes de partir do mundo Fez-me presente do cobre.
Leve-o para o cemitério, Que vou o encomendar Isto é, traga o dinheiro Antes dele se enterrar, Estes sufrágios fiados É factível não salvar.
E lá chegou o cachorro O dinheiro foi na frente, Teve momento o enterro, Missa de corpo presente, Ladainha e seu rancho Melhor do que certa gente. Mandaram dar parte ao bispo Que o vigário tinha feito O enterro do cachorro, Que não era de direito O bispo aí falou muito Mostrou-se mal satisfeito. Mandou chamar o vigário Pronto o vigário chegou As ordens sua excelência... O bispo lhe perguntou: Então que cachorro foi, Que seu vigário enterrou? Foi um cachorro importante Animal de inteligência Ele antes de morrer Deixou à vossa excelência Dois contos de réis em ouro... Se errei, tenha paciência. Não foi erro, sr. Vigário, Você é um bom pastor Desculpe eu incomodá-lo A culpa é do portador, Um cachorro como este Já vê que é merecedor. O meu informante disse-me Que o caso tinha se dado E eu julguei que isso fosse Um cachorro desgraçado. Ele lembrou-se de mim Não o faço desprezado. O vigário aí abriu Os dois contículos de réis. O bispo disse: é melhor Do que diversos fiéis. E disse: Provera Deus Que assim lá morresse uns dez. E se não fosse o dinheiro A questão ficava feia, Desenterrava o cachorro O vigário ia a cadeia. Mas como gimbre correu Ficou qual letras na areia.
Fontes: Neoenergia, Mundo educação e Brasil escola.
Bibliografia:
Marinho, Fernando. Literatura de cordel. Brasil Escola. Acesso em 02 de março de 2023.
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