Cora Coralina: o coração vermelho
Aos 75 anos de idade, Cora publicava a sua primeira obra: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. A poetisa é um dos maiores nomes da literatura nacional.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto (nome verdadeiro de Cora) foi uma das maiores poetisas do Brasil.
Seus poemas fortes e marcantes, retratam o cotidiano, à sociedade em que Cora vivia, denunciando suas complexidades e realçando suas belezas.
Cora Coralina nasceu na antiga Villa Boa de Goyaz — que um dia já foi denominada como Goiás Velho —, e que hoje é conhecida como Cidade de Goiás. O nascimento de Cora se deu em 20 de agosto do ano de 1889.
Seus poemas chegaram ao grande público após elogios feitos pelo também escritor Carlos Drumond de Andrade, na década de 1980.
Primeiros anos
Cora Coralina era filha da dona de casa Jacyntha Luiza do Couto Brandão e do desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, que faleceu quando Cora mal tinha completado um mês de vida.
Cora tinha três irmãs e, de acordo com seu poema "Minha infância (freudiana)", das quatro filhas de sua mãe, Cora sempre ocupou o pior lugar:
Éramos quatro as filhas de minha mãe. Entre elas ocupei sempre o pior lugar. Duas me precederam – eram lindas, mimadas. Devia ser a última, no entanto, veio outra que ficou sendo a caçula.
Quando nasci, meu velho Pai agonizava, logo após morria. Cresci filha sem pai, secundária na turma das irmãs.
Eu era triste, nervosa e feia. Amarela, de rosto empalamado. De pernas moles, caindo à toa. Os que assim me viam – diziam: “- Essa menina é o retrato vivo do velho pai doente.”
(...)
Na adolescência, Cora começou a escrever e participar dos meios literários. Fundou, quando tinha 19 anos, na companhia de suas amigas Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana, o jornal de poemas femininos "A Rosa".
Deste momento em diante, ela passou a se aprofundar mais na literatura.
Como surgiu o pseudônimo 'Cora Coralina'? Qual o significado de 'Cora Coralina'?
Ainda muito jovem, com aproximadamente 14 anos de idade, Ana Lins dos Guimarães Peixoto queria um nome que lhe fosse único, pois acreditava que "Ana" era um nome muito comum na época.
Por morar nas proximidades do Rio Vermelho, cuja a vista era possível através da janela de seu quarto, ela acabou criando o pseudônimo Cora Coralina, que, segundo Marlene Vellasco — diretora do museu Casa de Cora Coralina — significa Coração Vermelho.
Vida adulta
O regime familiar ao qual Cora fazia parte, não lhe agradava muito. Os pensamentos dela, muitas vezes, eram destoantes daquilo que pensavam as mulheres próximas, entre elas sua mãe e irmãs.
Cora era muito questionadora e queria a liberdade de viver sem os padrões que lhe eram impostos por sua família.
Em meados de 1910, ela escreve um conto chamado "Tragédia na Roça" que foi publicado — e também muito elogiado — no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás.
Um ano depois, conhece o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas — 22 anos mais velho do que ela —, com quem foge para o estado de São Paulo.
Em uma de suas raras entrevistas, concedida ao antigo programa "Vox Populi", da Tv Cultura, no ano de 1983, Cora Coralina explica melhor sobre essa fase de sua vida:
(...) de menina, fui sempre limitada. Cresci entre oito mulheres que me limitavam. Cada uma queria me enquadrar dentro de um molde que pareciam a elas o certo. E eu sempre errada.
E daí veio o meu desejo de me libertar daquele meio familiar constrangedor, pelo casamento, que era a única porta aberta naqueles tempos remotos.
E foi uma ilusão muito grande porque liberta da coerção e da limitação da família, eu passei para a limitação de meu marido...
No interior de São Paulo, Cora Coralina se dedicou mais aos trabalhos domésticos, cuidando de sua casa e de seus seis filhos, que viera a ter com o marido.
Seu esposo não gostava da ideia de que ela publicasse seus textos, então ela escreveu muito pouco durante o tempo de casada.
Segundo o blog Banco da Poesia, Cora Coralina foi, inclusive, proibida pelo marido, de comparecer a Semana de Arte Moderna de 1922, a convite do escritor Monteiro Lobato.
Dificuldades
No ano de 1934, morre o marido de Cora Coralina. Para sustentar sua família, Cora busca exercer várias outras funções além da escrita.
Teve contato com o editor José Olympio, onde começou a vender livros.
Cora tinha também muito conhecimento com plantas. Segundo Astrid Fontenelle, durante o tempo em que Cora viveu na cidade de Jabuticabal, no interior de São Paulo, publicou um artigo chamado "Árvores" em que convidava estudantes e professores a plantarem mudas pela cidade. Ficou conhecida na região como "Cora Florista".
Em 1956, aos 67 anos de idade, Cora Coralina decide voltar para a sua terra natal. Em Goiás, dedica-se a produção de doces caseiros para a sua sobrevivência.
Obras
Cora Coralina só veio a ter uma obra publicada no ano de 1965, quando já tinha 75 anos de idade. Sua primeira obra publicada foi Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais.
Outras obras:
Meu Livro de Cordel (1976);
Vintém de Cobre - Meias confissões de Aninha (1983);
Estórias da Casa Velha da Ponte (1985);
Meninos Verdes (1986);
Tesouro da Casa Velha (1996);
A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (1999);
Vila Boa de Goiás (2001);
O Prato Azul-Pombinho (2002).
Reconhecimento
Por volta do ano de 1970, Cora Coralina foi nomeada como membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, ocupando a cadeira de número 5.
Já em meados do ano de 1981, Cora recebeu o Troféu Jaburu através do Conselho Estadual de Cultura do estado de Goiás. Em 1982, ela ganhou o Prêmio de Poesia em São Paulo.
Em 1983, Cora foi agraciada com o título de doutora honoris causa pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Recebeu também o troféu Juca Pato, sendo a primeira mulher a receber o prêmio. Foi membro da Academia Goiana de Letras, ocupando a cadeira de número 38.
Cora Coralina é, atualmente, uma das maiores poetisas do Brasil.
Cora Coralina e Carlos Drumond de Andrade
Cora Coralina mantinha contato com muitos dos principais escritores da época. Monteiro Lobato, Jorge Amado e Carlos Drumond de Andrade foi alguns deles.
Monteiro Lobato, inclusive, enviou a ela um convite para que ela participasse da Semana da Arte Moderna de 1922. No entanto, o marido dela, o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, a proibiu de ir.
A notoriedade a nível nacional veio quando Carlos Drumond de Andrade teve conhecimento do trabalho de Cora Coralina, expondo-o a todo o país.
Drumond enviou a ela a seguinte carta:
“Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (…)”
Cora Coralina morreu no ano de 1985, aos 95 anos, de pneumonia.
Conclusão
Além de poetisa e contista, Cora Coralina foi também doceira. Publicou sua primeira obra aos 75 anos de idade: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais.
Em sua casa, na Cidade de Goiás, onde atualmente é o Museu Casa de Cora Coralina, estão expostos os seus livros e os seus tachos, onde produziu os doces que garantiu, por muito tempo, a sua sobrevivência.
Hoje, Cora Coralina é considerada como uma das maiores escritoras do nosso país.
Fontes: Museu Casa de Cora Coralina, EBC, Toda Matéria, E.Biografia, Banco da Poesia, Português, Conexão Tocantins e PUC-RS