A trágica história do escritor que deixava tudo para depois
Será que você já fez isso também? E por que será que fez isso?

Eu poderia começar dizendo que foi um amigo meu que disse isso. "Isso o quê?" Que deixava a escrita para depois.
Mas não foi amigo nenhum, muito pelo contrário, foi eu mesmo.
Sim. É bem isso que você está lendo.
Na minha vida, tudo parecia mais importante do que a escrita. Tudo era mais urgente do que a escrita. Tudo, tudo, tudo.
"Hey Vladimir, você poderia vir trabalhar no sábado? Estamos precisando de uma mãozinha aqui."
"Mas é claro. Vou sim."
Não deveria pois eu gostava de escrever aos sábados, que era o meu dia de folga. Mas como eu disse no começo, tudo era mais importante do que a escrita. Tudo.
Se formos olhar para trás e tentar encontrar os motivos pelos quais eu pensava e me comportava assim, podemos ter algumas possíveis explicações.
Primeiro...
Desde o meu primeiro contato com a literatura, de uma forma geral, quando eu ainda era bem criança, ninguém nunca me disse que eu poderia viver da escrita.
Talvez o fato de eu ter nascido em uma família sem o hábito da leitura tenha contribuído para isso.
Quer dizer, não só pelo fato de eu ter nascido em uma família sem o hábito da leitura/escrita, mas por ter nascido em um cenário social onde não existia essa possibilidade, como explicarei mais adiante.
Segundo...
Ninguém me ensinou que escrever e ler deveria ser levado a sério, como algo que poderia se tornar uma profissão de verdade um dia.
Nem professores, nem colegas, nem os meus familiares mais próximos.
Muitos até se admiravam "Ó, o menino gosta de ler". Mas era isso. Um hábito esquisito de um menino esquisito.
Prova é que comecei a trabalhar aos 12, e não foi com livros. Mas essa história deixarei para outro dia.
Vamos um pouco mais fundo e depois vamos as consequências
Acreditar realmente faz muita diferença na vida das pessoas.
Eu sei que parece balela, conversa de coach etc e tal. E realmente parece. Quer dizer, é o que a maioria dos coachs dizem. Mas a verdade é que essa coisa de acreditar muda tudo.
Tipo, muda tudo mesmo.
Como eu disse, por anos a minha crença inconsciente era que escrever e ler era uma espécie de hobby. Só e nada mais do que isso.
Eu não me imaginava vivendo necessariamente da literatura como vivo hoje. Minhas ideias de futuro envolviam me tornar juiz, advogado, policial (sim, por mais estranho que pareça) e por aí vai.
E por que eu não me imaginava vivendo de escrita mas sim vivendo de outras profissões?
Porque no meio em que eu vivia esse era o pensamento mais frequente. "Estude muito para ser alguém: um médico, um advogado, um juiz, um policial etc, etc e etc."
Como se ser escritor não fosse ser alguém...
Mas meus familiares próximos não me diziam isso porque eles eram do mal ou coisa do tipo. Eles me ensinavam isso porque era o que eles sabiam.
E geralmente ensinamos aquilo que sabemos. Não é?
Para eles (e a maioria dos brasileiros), "ser alguém" não envolve ser escritor. E por que?
Sinceramente eu não sei a resposta exata para essa questão, mas tenho uma hipótese:
não se fala muito de escritores bem sucedidos por aí e, os escritores bem sucedidos que existem não são muito de compartilhar os seus sucessos, e, em nossa sociedade, a métrica de sucesso é sempre o dinheiro.
Se quando eu era pequeno houvesse a crença de que a literatura, de uma forma geral, pudesse ser tão rentável quanto qualquer outra área, eu teria levado a coisa mais a sério.
E você também, muito provavelmente.
Mas como é "proibido" falar de dinheiro em nosso meio, as pessoas não acreditam que as possibilidades são reais e, por não acreditarem, vivem deixando a escrita para depois.
Depois dos vinte, depois dos trinta, depois que os filhos estiverem grandes, depois que os filhos entrarem na faculdade, depois que a aposentadoria vier, depois que a morte chegar e por aí vai.
Geralmente, esse deixar para depois é por conta do medo de não dar certo, ou seja, é por não acreditar
Cada história é uma história e eu não quero definir o que é certo ou o que é errado, o que você deve fazer ou o que você não deve.
Eu não conheço você, não sei das suas dores, nem da sua luta. Por isso não posso apontar o dedo e falar se você está certo ou errado.
Mas eu posso dizer por mim, sobre a minha vida.
Nada aconteceu da noite para o dia. Eu não acordei em uma certa manhã certo de que eu deveria levar a literatura a sério. Não foi bem assim.
Mas foi uma construção.
Aos poucos eu comecei a perceber que haviam dois tipos de pessoas no meio literário: de um lado tinha as pessoas que aparentemente eram bem sucedidas e do outro tinham as pessoas que aparentemente não eram.
O grupo de pessoas que aparentemente não eram bem sucedidas era maior. Mas ainda sim, havia muita gente que aparentava ser bem sucedida no meio literário.
Então, comecei a questionar: será que é possível viver de literatura? E quanto mais eu questionava, mais eu percebia que sim, era possível.
O tempo foi passando e, quando me dei conta, eu estava acreditando verdadeiramente. Tanto que pedi demissão do emprego que eu tinha e me joguei de cabeça no mercado literário.
Estou entre o grupo de pessoas bem sucedidas do meio? Não sei. Certamente que ainda não.
Mas posso garantir que a minha vida atualmente é mil vezes melhor do que no passado. E isso tem sido o suficiente para me deixar muito contente comigo mesmo.
E acredito que o futuro será muito melhor.
Qual é a moral da história?
Bem, a moral da história é que nós somos parte daquilo que acreditamos. Eu sei que existem muitos desafios no meio literário.
E como eu sei disso.
Mas existem desafios em todas as áreas. Se a literatura é algo que você realmente ama, vale a pena levar a sério.
Quando eu falo levar a sério, estou falando de verdadeiramente assumir esse lado e mergulhar de cabeça como se não houvesse outra opção.
Fazer o que precisa ser feito. Simples assim.
Não estou dizendo para você fazer isso da noite para o dia (de novo, não sei nada sobre a sua história, nem das suas dificuldades), mas estou dizendo que você já pode começar a tomar pequenas decisões que podem te levar a onde você quer chegar no futuro, independente da sua idade.
Eu comecei a acreditar verdadeiramente na literatura aos vinte e poucos anos. Pode ser que você esteja alguns anos à frente, ou atrás. Não importa.
O fato é que você pode começar ver o lado bom do nosso mercado literário, pois a maior parte dos escritores e demais profissionais da área estão reclamando o tempo todo, que é muito difícil, que é complicado, que não dá dinheiro, que não tem oportunidades...etc, etc e etc.
Sim, eu sei disso. Mas novamente, é difícil para todo mundo. Para todas as profissões, para todas as áreas.
Se você começar, aos poucos, olhar para o lado positivo, você vai perceber que existe muita oportunidade onde você menos imagina.
E certamente, com o tempo (se a sua vontade de vencer for maior que as dificuldades encontradas), você provavelmente será um exemplo de sucesso em nosso mercado.
E tenho certeza que você se sentirá muito feliz por ter acreditado em você mesmo.
Sem mais...
Acho que já escrevi demais, não é? Bem, a mensagem era só pra você parar de deixar a escrita para depois.
Um dos arrependimentos da minha vida foi não ter começado antes. Como eu queria ter levado a escrita a sério aos quinze...
De toda forma, você pode levar as coisas a sério sempre que quiser. É só começar.
Tchau!
Espero que esse texto tenha sido útil pra você de alguma forma. Até qualquer hora!
:)